domingo, 9 de dezembro de 2012

Não consigo dar um título para isso - esse será o título

"Gostaria de ser tão compreendida por alguém como por este livro" Sofi pensava enquanto mantinha o livro na mão. Era pequeno, como ela, assim como continha páginas amareladas por serem de anos atrás, mas nada daquilo importava pois parecia que as palavras a entediam como ninguém.
O mais difícil de se sentir sozinha é não ter coragem de dizer para alguém que você está se sentindo sozinha. E quando um livro por meio metáforas tenta explicar sentimentos muito mais complexos do que a solidão de certo aquilo a preenchia um pouco, depois de Sofi decifrar todas as palavras. Sentia vontade de gritar, mas o grito era abafado pela consciência de estar viva. Engraçado isso, não? Não gritar por mais que tenha essa capacidade, você está viva, pode gritar. O grito não saía, ficava como aprisionado ao corpo. 
Percebeu que não gostava desses tipos de livros que idealizavam a vida, muito menos novelas e coisas do tipo, porque nada era ideal e nunca seria. Era tudo uma complexa loucura que às vezes aumenta por causa dos sentimentos. Todos estão loucos. Queria que aquele livro virasse uma pessoa, tão inteiramente como desejava o amor não idealizado.
Sofi não ouviu ninguém chegando, só o barulho da TV ainda ligada entrava pelos buracos da porta, queria o completo silencio, não a completa solidão. Seus olhos não se permitiam chorar, da mesma forma que não era permitido gritar, porque simplesmente estava viva.
Ou não. Nunca estivera mais morta do que naquela noite sem lua nem estrelas, a morte não a levava para nenhum lugar e assim estava: sem escapar do ideal. O ideal era tão bonito, como um tela que não fosse possível observar um erro no sorriso da criança, nem seria possível reclamar do cabelo despenteado, era um ideal por não mais existir. Talvez nunca existira, era só mais simples quando se era criança.
Pegou o telefone e pensou seriamente se deveria ligar para ele. Era complicado, primeiro porque ter um melhor amigo nunca é fácil, principalmente por todas as diferenças do sexo. E quando ele a magoa não é como se fosse um amigo que logo iria voltar, era como um amante que nunca mais voltaria a ligar no seu telefone.
- Gabriel?
- Oi. Já são onze horas, o que aconteceu?
- Eu acho que perdi tudo.
- Do que você está falando?
- Acho que perdi tudo que já fui. E eu não gosto de mim agora, sabe. É como se olhar no espelho e seu reflexo ser tão franco que você tem vontade de gritar até tudo explodir, mas eu não posso gritar.
- É, acho que você precisa gritar.
- Não aqui.
- É que parece que você insiste em não gritar, da mesma forma que insiste em não mudar de vida.
- Você só me deixa pior.
- Estou sendo sincero, quer que eu seja falso?
- Não.
- Por que você está assim?
- Porque não quero nada do jeito que está.
- É essa hora de mudar.
- Acontece que não é tão simples.
- Nada é tão simples para você, ah... Sofi larga de ser besta.
Ela sentia vontade de dizer um monte de coisa para ele. Mas não disse, essa não é um história em que tudo muda com um passa de mágica. É uma escada onde é impossível chegar no fim ou no começo, você deve simplesmente decidir se quer sair da escada ou continuar nela, só descendo.
- Odeio quando você tem razão.
- Então, quer ir para um lugar vazio e gritar?
- Gostaria muito.
- Te vejo daqui a pouco.
Desligou o telefone.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Talvez eu prefira pensar que você nunca fora sincero. Incomoda menos, dói um pouco e me dá uma vontade de te explodir. Mas são nesses tempos que percebo que você foi o mais sincero ou talvez o único que realmente me conhecesse, então não há mais jeito, quero-te mesmo se forem só algumas palavras, mas o querer nem sempre é o necessário e acho que o nosso necessário está precisando de um tempo. Tempo que pouco tenho, é... Vou ter que apressar a eternidade.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Eternos zumbidos em noites frias

Era noite, Jorge não aguentava mais ouvir o barulho da cigarra no seu ouvido e aquilo havia o atormentando desde a noite passada. De manhã viu seus colegas ao longe, eram colegas, não amigos, disse um "olá" e continuou a caminhar sem ter ouvido as respostas deles. Ele só ouvia a cigarra, conseguiu descrever exatamente como esta fazia o barulho: batia as asas. Maldita cigarra, parecia que entrara no seu ouvido, maldita.
Continuou caminhando e não sei em que momento ao certo ele percebeu que aquilo não estava do lado de fora dele, estava dentro do seu ouvido, seria assustador se existissem cigarras em todos os lugares, mesmo com a porta fechada e a TV ligada no volume máximo, a cigarra era mais alta que a televisão, "estou ficando surdo" pensou.
Neste mesmo dia, quando Jorge já havia chegado em casa, Maria, que morava na casa ao lado, sentia uma coisa estranha perturba-la, mas não era um bicho no seu ouvido, demorou um tempo para perceber que o que estava a perturbando era a TV do vizinho, "aah... esse cara esta de brincadeira" e todas as coisas que ela resolvia fazer, como ler seu livro da tarde, cozinhar, pintar unhas, tentar dormir, ligar o rádio, até tomar banho, tudo que ela resolvia fazer o barulho a perturbava e existia um detalhe: Maria tinha uma aversão a TV's de uma forma absurda, não sei ao certo porquê, mas as pessoas do bairro diziam que seu primeiro e único namorado fora um famoso repórter, vá entender as pessoas.
No momento crucial do seu dia, a hora de deitar na cama e ler um de seus romances que comprara de um senhor que vendia livros de casa em casa, o barulho não permitia Maria a se emocionar com a morte do cara mais perfeito - ou talvez uma cópia de todos os caras perfeitos já criados - do mundo. Foi nesse momento, que ela se levantou e disse: Querido vizinho, vou ser obrigada a te matar se você não abaixar essa TV.
Saiu de sua casa, vestida com pijamas e sem se importar sobre o que iriam falar no dia seguinte, olhou para aquela casa pequena, com ares repugnantes e sem cuidados, tocou a campainha. Ninguém apareceu. Tocou novamente. Ninguém. Até que já não aguentando mais resolveu tocar um milhão de vezes até o senhor dar as caras.
Naquele mesmo instante Jorge começou a ouvir outro barulho contínuo junto com o som da TV e da cigarra e então pensou: Ah, isso está parecendo a campainha, bem... já não ouvia esta a séculos, mas a essa hora? Que mendigo vem pedir comida essa hora?
Levantou lentamente e abiu a porta da casa, no portão pairava dona Maria.
- Boa noite - ela disse fazendo um gesto com a cabeça.
Ele repetiu o gesto e só o que viu foram movimentos da sua boa.
- Senhor, gostaria de pedir a abaixasse a TV.
- Sim - Jorge não tinha ideia do que ela estava falando, pensou que ela estava precisando de ajuda.
- Ah, pensei que seria mais difícil.
- Sim.
- Então, poderia abaixar agora?
Ele fez um sinal de concordância com a cabeça. Maria não estava entendendo nada, aquele senhor continuava parado.
- Este grilo é realmente irritante.
Ele enlouqueceu, ela pensou.
- Então você não vai abaixar a TV ou desligar?
- Sabe, os grilos eles batem as asas e por isso fazem essa barulho.
- Sério, só estou pedindo uma coisa - ela fez o sinal de um com o dedo.
Ele entrou dentro da casa. Aleluia, Maria pensou olhando para o céu que tinha uma lua cheia que iluminava aquele lugar. Jorge andou pela casa, foi até a dispensa procurar alguma comida, coitada daquela mulher, não tinha dinheiro nem para roupas apropriadas para sair a noite. Um pijama, tudo que ela queria era Um saco de arroz ou qualquer outro tipo de comida.
Pegou algumas coisas da dispensa, um saco de arroz, de feijão, farofa, é acho que já é o suficiente. Saiu pela porta da casa, chegou no portão e foi oferecer para Maria que olhava para o céu.
- AQUI - ele disse um tanto alto demais, essa é a desvantagem de se estar surdo, não consegue medir a intensidade da própria voz.
Maria saltou e viu ele oferecendo um monte de comida, ela ficou extremamente zangada, começou a xingar ele, saiu pisando forte, entrou na sua casa, bateu a porta e bem... tentou dormir com um monte de travesseiro na sua cabeça enquanto a TV continuava alta.
Jorge não sabia que Maria era sua vizinha, Maria não sabia que Jorge estava surdo e chegou uma hora que o barulho já não incomodava tanto a ela, isso depois de longos dias de jornais insuportáveis com uma voz que ela conhecia bem demais.
Isso é só uma história de vizinhos que não se compreendem, existia sim outras história mais interessantes, sobre como Jorge também era incompreendido por sua neta, ou como Maria sofreu depois do término, mas sabe para os dois a vida estava sendo assim: entre a TV e o grilo.
E quando o grilo desapareceu Maria sentiu falta da TV  e comprou uma nova, que deixava alto para ela escutar do seu quarta nas noites em que se sentia sozinha.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Desabafo

Tão estranha essa sensação de estudar o passado e perceber que muita coisa aconteceu por aqui, é como se tudo tivesse um significado, de alguma forma quando a gente está neste mundo pensa qual o sentido de tudo isso... Tantas coisas ocorreram, revoltas, revoluções e isso de uma outra forma se repete e então eu nasci, no fim do mundo (era fim do mundo no Brasil colônia e continua sendo) e me deparei com anos passados que só me fazem refletir que estou em um ciclo sem fim de estudos, pensando em vestibular sem ao menos me surpreender com a história. Se existe um motivo para eu estar aqui ando me distanciando e não quero nada disso... Quero viver, sem pensar em sobreviver, ser feliz e livre de preocupações, estas só trazem agonias. A gente cresce e se distância cada vez mais das perguntas existencialistas... Isso é um grande erro.

sábado, 24 de novembro de 2012

Existe um pássaro em algum lugar

Eu não acho que eu tenha mudado muito, sabe. As outras pessoas que acham. Então: não quero mais saber de opiniões vazias de mim, jogadas ao vento como para me ajudar, ainda não preciso de psicólogo ou eu acho que não preciso. O vento é muito longo para palavras de tão pouco significado e se não estou sendo exata é porque a metáfora muitas vezes me deixa mais feliz, pelo simples fato de que quando eu ler daqui dez anos, mais ou menos, não vou reconhecer a solidão.
O pássaro estava lá, brincando em um dia frio, no chão de pedras: era menor que a minha mão. Um filhote, sem pai nem mãe. Não estava sozinho, eu estava lá, assim como a natureza e esta deveria ser tão falante para os homens como os amigos. Mas não, é preferível arrancar árvores e construir um VLT. 
Já não estava sozinho aquele pássaro, tão independente, tão livre de preocupações e ao mesmo tempo com o fardo de ser sempre um pássaro. Ali estava eu, andando por aqueles caminhos, tão dependente e com um fardo que pesava nas minhas costa, estas até agora doem.
A gente não devia continuar vivendo uma vida que não gosta, entendo meu pai, quando ele se preocupa com a minha felicidade, mas os olhos fundos dele deveriam olhar para si e se perguntar se existia dentro dele a felicidade. Porque em mim já estava exposto pelo meu cabelo bagunçado, meus óculos tortos e enfim o fardo nas minhas costas.
Preciso de mais metáforas, senão irei me reconhecer e é isso que eu menos quero e mais preciso. Existe um minúsculo ponto no universo, mais ao mesmo tempo uma imensidão de palavras quando de dentro me saem temores. Os temores não doem, são como lentos picos de tristeza, o que é pior que sofrer por amor. Já não existem sentimentos como antes, mas eu prefiro achar que estão escondidos. Da mesma forma que naqueles olhos castanhos claros existe de tudo escondido e dentro, o que só ele pode achar, sua paixão por si.
Minha paixão por mim está aqui, caro senhor, assim como eu sei que o pássaro está em algum lugar escondido, é não estou sozinha, existe uma pássaro em algum lugar.
Todas as suas preocupações não caberiam naquele pote de bolachas que estava em cima da mesa, nem mesmo uma baleia aguentaria tudo aquilo, nem uma baluarte.
- Meu tio disse que eu era um baluarte, sabe... uma fortaleza.
- E por que está me contando isso?
- Eu não sabia o que era um baluarte, pensei que fosse a baleia.
Ele fez uma cara engraçada.
- É Elisa, você é idêntica a uma baleia.
Ignorei aquele comentário e disse:
- De todas as coisas que já me senti, nunca pensei em uma fortaleza e principalmente agora... nunca poderia ser um baluarte.
- Você se afunda muito nos seus problemas, isso é irritante.
- Tá. Então eu devo esquecer tudo.
- Não. Mas seja um baluarte.
Eu odiava aquele cara. E aquele pote de bolachas. Aquele não foi o fim dos meus problemas.